Dinheiro não resolve. Consciência resolve.
Esse texto é uma crônica pesada e direta que denuncia que o verdadeiro problema não é falta de dinheiro, mas o racismo estrutural. Mostra que, mesmo quando pretos da favela enriquecem, continuam sendo rejeitados pela elite e, pior, muitos acabam repetindo as práticas de exploração dos brancos ricos. Usa o exemplo de um milionário que agiu sem consciência para mostrar que grana sem letramento racial e responsabilidade social não liberta — só ilude. O recado final é claro: dinheiro sem consciência não transforma a favela, só reproduz opressão.
BLOGCRONICADIA A DIA
FAVELADO PENSANTE
8/18/20253 min read


Dinheiro não resolve.
Consciência resolve.
Vamos trocar uma ideia séria, sem rodeio: o problema do mundo nunca foi dinheiro. O problema é o racismo.
Pode pegar qualquer preto que ficou milionário — jogador, MC, empresário — e reparar: ele até chega perto, mas nunca senta na mesa da elite. No máximo é convidado pra bater cota em evento, fazer foto bonita de diversidade, mas quando é hora de decidir algo de verdade, não tem espaço. Não temos voz pra falar de preto pros brancos, nem de favela pra cidade. Eles decidem por nós.
O dinheiro engana. Faz o preto acreditar que venceu, mas a elite nunca esquece a cor da pele. E quando a gente acha que venceu só com grana, vem o baque: ser preto rico é estar mais perto de ser pobre de novo do que ser aceito pelos de cima.
E aí entra um exemplo que não dá pra ignorar: um MC famoso, já milionário, foi num estádio privado e resolveu dar cavalinho de pau com um carro importado. O carro valia mais que o campo. E por quê? Porque achou que ter dinheiro dá direito de fazer o que quiser. Isso não é vitória, isso é ilusão. É repetir a lógica do branco rico que acha que pode destruir, comprar, pisar, explorar — porque “tem grana pra pagar”.
Mas e a consciência? Cadê a visão social? Cadê o entendimento de que não adianta ter dinheiro se você não sabe o peso de ser preto nesse país?
Esse MC, que sempre falou de ser perseguido na quebrada, esqueceu que o sistema é o mesmo: ontem era perseguido por ser pobre, hoje é perseguido por ser preto milionário. A diferença é que agora, com o bolso cheio, começou a agir igual os que sempre o oprimiram. E isso é traição com a favela. Porque não basta encher a garagem de carro importado se você continua vazio de consciência.
Os dados estão aí: em 2022, o IBGE mostrou que famílias brancas ainda ganham 75% mais do que famílias pretas. O Fórum de Segurança Pública revelou que 81% dos mortos pela polícia são negros. Isso não muda com dinheiro no bolso. Isso só muda com luta, consciência e transformação coletiva.
É duro falar, mas precisamos encarar: favela nunca vai vencer se virar patrão de favela. Se você, preto milionário, paga salário mínimo, faz trabalhador bater ponto 10 horas por dia, coloca doméstica pra limpar seu banheiro em pleno domingo, então você só trocou de lado no jogo. Virou igual ao branco rico que sempre explorou a gente.
E aí eu te pergunto, favelado pensante: de que adianta a gente ganhar dinheiro e reproduzir o mesmo descaso? Vamos virar patrão que se orgulha de pagar o mínimo enquanto tira foto em cima de carro de luxo? Vamos achar bonito mostrar poder enquanto o povo preto segue sem escola, sem saúde, sem lazer?
Não adianta. Grana sem consciência só nos aproxima mais rápido da queda. Porque quando o branco vê preto com carro melhor que o dele, com filho na mesma escola que o dele, com a mesma piscina que ele, o racismo aparece sem máscara. Eles podem até gostar de ter preto na cozinha, como empregado, como amigo “exótico”, até como par romântico fetichizado. Mas preto do lado, de igual pra igual, incomoda. E quando incomoda, eles vomitam o racismo que sempre esteve escondido.
Então não se iluda, irmão. Dinheiro nunca foi solução. Dinheiro é ferramenta. O que resolve é consciência, é organização, é letramento racial. Porque só com isso a gente não cai na armadilha de virar o mesmo monstro que sempre nos pisou.
E fica a lição: não basta vencer no bolso, tem que vencer na mente.
Você tem dinheiro? Beleza, mas tem consciência?
Não tem dinheiro? Então tenha consciência.
Se a favela virar cópia de branco rico, a favela nunca vence.
Identidade
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