Do extremismo à quebrada: por que não dá pra romantizar neonazista

Uma crônica de quebrada sobre a morte de Charlie Kirk, desmontando suas ideias racistas, homofóbicas e neonazistas com dados, exemplos e a visão real de quem vive na periferia, mostrando como esses discursos matam, perseguem e roubam cultura, saúde e lazer do nosso povo.

CRONICAHISTORIABLOG

FAVELADO PENSANTE

9/17/20254 min read

A morte de Charlie Kirk e o veneno que fica

Charlie Kirk morreu. E aí, como sempre acontece quando morre um extremista, vem aquela tentativa de limpar a barra: “ah, mas ele era pai de família”, “a esposa dele não tem culpa”, “ele também era humano”. Beleza, humano ele era. Mas também era um sujeito que passou a vida defendendo racismo, xenofobia, homofobia e tudo o que serve pra empurrar quem mora na quebrada ainda mais pro fundo do poço. É sobre isso que precisamos falar.

Quem era esse cara?

Charlie Kirk foi fundador da Turning Point USA, uma organização que cresceu nos Estados Unidos financiada por milionários conservadores, com o objetivo de levar jovens pra direita radical. E não é discurso vazio, não: esse cara movimentava milhões de seguidores nas redes, formava opinião e dava munição política pro fascismo moderno.

As ideias dele? Sempre do mesmo veneno:

  • Ele dizia: “The Great Replacement is not a theory, it’s a reality” — “A Grande Substituição não é uma teoria, é uma realidade”. Ou seja, acreditava que existia um plano pra “substituir” a população branca por imigrantes e negros. Pura teoria conspiratória neonazista.

  • Também saiu com: “prowling Blacks go around for fun to go target white people” — “negros à espreita saem por aí pra se divertir atacando brancos”. Isso não é só racismo, é incitar medo e ódio racial.

  • Sobre os direitos civis, afirmou que o Civil Rights Act of 1964 (Ato dos Direitos Civis de 1964) foi “a huge mistake” — “um grande erro”. Pra ele, garantir igualdade racial foi ruim porque teria criado burocracias de DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão).

  • Ele ainda negava o chamado “white privilege” — “privilégio branco”. Dizia que essa ideia era racista contra brancos. Como se não fosse óbvio que a cor da pele ainda define chances de vida.

  • Sobre pessoas trans, o discurso era: “Sorry, if you’re Jeff and you think you’re Jill … Go find something else to do”— “Desculpe, se você é Jeff e acha que é Jill… vai procurar outra coisa pra fazer”. Um deboche transfóbico que virou munição pra perseguir gente que só quer existir.

O peso dessas ideias

Parece só fala de maluco? Não é. É discurso que mata.

  • Essa tal de “Grande Substituição” é usada como desculpa em massacres. Atiradores em igrejas, supermercados e escolas já disseram se inspirar nisso.

  • Negar o privilégio branco é apagar séculos de escravidão, linchamento, segregação e a realidade de que, até hoje, pretos ganham menos, vivem menos e morrem mais cedo.

  • Demonizar imigrantes é virar as costas pra gente que só tá tentando sobreviver. Dados nos EUA mostram que imigrantes sustentam a economia, mas viram bode expiatório.

  • Atacar pessoas LGBTQIA+ aumenta violência, suicídio, marginalização. E quem sofre isso primeiro? Quem já tá nas margens, como sempre.

O papo do “pai de família”

Quando um extremista morre, sempre vem o mesmo roteiro: “mas ele era bom pai”. Pode até ser que fosse carinhoso em casa. Mas isso não apaga que suas falas justificaram violência contra milhões. O problema é quando esse argumento vira cortina de fumaça, transformando um extremista em coitado.

A esposa dele? Vão dizer: “ah, não tem culpa”. Me perdoem, mas tem sim. Escolher estar ao lado de um neonazista, continuar casada, bancar a imagem pública dele, é aceitar esse pacote. Não merece meu apoio. Agora, os filhos, esses sim não têm culpa nenhuma. Criança não escolhe pai. Criança não escolhe crescer cercada de ódio. Solidariedade a eles.

O que isso ensina pra quebrada

A morte de Kirk escancara um negócio: não dá mais pra fingir que o fascismo é coisa escondida. Não é. Tá saindo do bueiro, com gente falando publicamente que não quer nordestino perto, que pobre estraga praia de luxo, que preto é ameaça. Essa galera perdeu a vergonha e acha normal vomitar racismo e preconceito em rede nacional, em rede social, no bar da esquina.

E aí, qual o problema disso? Se a gente acha engraçadinho, se compartilha “só de zoeira”, se vota nesses vermes, a gente fortalece a mesma ideologia que mata nossos. A mesma que corta cultura, fecha centro cultural, censura livro, trava investimento em saúde, em lazer. É tudo parte da mesma engrenagem.

Dados que provam

  • Nos EUA, a expectativa de vida de pessoas negras é 4 anos menor que a de pessoas brancas, em média (CDC, 2022).

  • Negros representam cerca de 13% da população, mas quase 40% da população carcerária (Bureau of Justice Statistics).

  • Pessoas LGBTQIA+ em ambientes hostis têm risco quase 3 vezes maior de suicídio (Trevor Project, 2023).

  • E quando falamos de cultura e lazer, é sempre a quebrada a primeira a perder espaço: bibliotecas fechadas, projetos cortados, juventude jogada na rua sem alternativa.

A real conclusão

Charlie Kirk morreu. Mas o veneno dele continua vivo em quem pensa igual, em quem apoia, em quem minimiza. A diferença é que agora a gente enxerga melhor esse pessoal: eles não estão mais escondidos, estão falando alto. E é aí que temos que decidir: rir junto, passar pano, ou bater de frente.

Na quebrada, a gente sabe: quando um fala mal de nordestino, tá falando mal da tia que vende coxinha na esquina. Quando ataca imigrante, tá atacando o irmão que veio do Haiti trabalhar no corre. Quando ataca pessoa trans, tá atacando a amiga da escola. Quando nega privilégio branco, tá negando a história que eu e você carregamos na pele.

Por isso, não tem espaço pra romantizar extremista. Que a morte dele sirva de alerta: ou a gente enfrenta esse pensamento, ou ele continua matando — mesmo depois que o corpo do porta-voz já foi pro chão.